Nietzsche – sobre o sofrimento

O que revolta no sofrimento não é o sofrimento em si, mas a sua falta de sentido: mas nem para o cristão, que interpretou o sofrimento introduzindo-lhe todo um mecanismo secreto de salvação, nem para o ingênuo das eras antigas, que explicava todo sofrimento em consideração a espectadores ou a seus causadores, existia tal sofrimento sem sentido. Para que o sofrimento oculto, não descoberto, não testemunhado, pudesse ser abolido do mundo e honestamente negado, o homem se viu então praticamente obrigado a inventar deuses e seres intermediários para todos os céus e abismos, algo, em suma, que também vagueia no oculto, que também vê no escuro, e que não dispensa facilmente um espetáculo interessante de dor. Foi com ajuda de tais invenções que a vida conseguiu então realizar a arte em que sempre foi mestra: justificar a si mesma, justificar o seu “mal”; agora ela talvez necessite de outros inventos […]

Nietzsche, “Genealogia da Moral”

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Nietzsche – o que é a verdade?

nietzscheO que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas, e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram gastas e sem força sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas”.

Nietzsche – Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral

Nietzsche – a ciência graças a três erros

Graças a três erros – A ciência foi promovida nos últimos séculos, em parte porque com ela e mediante ela se esperava compreender melhor a bondade e a sabedoria divina – o motivo principal na alma dos grandes ingleses (como Newton) -, em parte porque se acreditava na absoluta utilidade do conhecimento, sobretudo na íntima ligação de moral, saber e felicidade – o motivo principal na alma dos grandes franceses (como Voltaire) -, em parte porque na ciência pensava-se ter e amar algo desinteressado, inócuo, bastante a si mesmo, verdadeiramente inocente, no qual os impulsos maus dos homens não teriam participação – o motivo principal na alma de Espinosa, que, como homem do conhecimento, sentia-se divino: graças a três erros, portanto.

Nietzsche, “A Gaia Ciência” Continuar lendo

Nietzsche – a grande ilusão da ciência

Se agora alguém demonstra de maneira convincente que por essa via direta não é dado alcançar a meta antípoda, quem há de querer continuar trabalhando nos velhos poços, a não ser que entrementes se dê por satisfeito em encontrar pedras preciosas ou em descobrir leis da natureza?

Por isso Lessing, o mais honrado dos homens teóricos, atreveu-se a declarar que lhe importava mais a busca da verdade do que a verdade mesma: com o que ficou descoberto o segredo fundamental da ciência, para espanto, sim, para desgosto dos cientistas. Agora, junto a esse conhecimento isolado ergue-se por certo, com excesso de honradez, se não de petulância, uma profunda representação ilusória, que veio ao mundo pela primeira vez na pessoa de Sócrates – aquela inabalável fé de que o pensar, pelo fio condutor da causalidade, atinge até os abismos mais profundos do ser e que o pensar está em condições, não só de conhecê-lo, mas inclusive de corrigi-lo. Essa sublime ilusão metafísica é aditada como instinto à ciência, e a conduz sempre de novo a seus limites, onde ela tem de transmutar-se em arte, que é o objetivo propriamente visado por esse mecanismo.

Nietzsche, Nascimento da Tragédia Continuar lendo

Nietzsche – o delírio da ciência

[…] uma profunda representação ilusória, que veio ao mundo pela primeira vez na pessoa de Sócrates – aquela inabalável fé de que o pensar, pelo fio condutor da causalidade, atinge até os abismos mais profundos do ser e que o pensar está em condições, não só de conhecê-lo, mas inclusive de corrigi-lo. Essa sublime ilusão metafísica é aditada como instinto à ciência, e a conduz sempre de novo a seus limites, onde ela tem de transmutar-se em arte, que é o objetivo propriamente visado por esse mecanismo.

Nietzsche, “O Nascimento da Tragédia”

Nietzsche – a destruição da subjetividade

Não somos batráquios pensantes, não somos aparelhos de objetivar e registrar, de entranhas congeladas – temos de continuamente parir nossos pensamentos em meio a nossa dor, dando-lhes maternalmente todo o sangue, coração, fogo, prazer, paixão, tormento, consciência, destino e fatalidade que há em nós. Viver – isso significa, para nós, transformar em luz e flama tudo o que somos, e também tudo o que nos atinge; não podemos agir de outro modo.

NIETZSCHE, “A gaia ciência”

Friedrich Nietzsche (1844-1900)

Assim falava Zaratustra (1883-85) – PT / ENG
Beyond Good and Evil (1886) – PT / ENG
The Will to Power (Posthumous) – ENG
Ecce Homo & Antichrist (Posthumous) – ENG
Ecce Homo (Posthumous) – PT
Genealogia da Moral (1887) – PT

nietzscheFriedrich Nietzsche (1844–1900) was a German philosopher of the late 19th century who challenged the foundations of Christianity and traditional morality. He was interested in the enhancement of individual and cultural health, and believed in life, creativity, power, and the realities of the world we live in, rather than those situated in a world beyond. Central to his philosophy is the idea of “life-affirmation,” which involves an honest questioning of all doctrines that drain life’s expansive energies, however socially prevalent those views might be. Often referred to as one of the first existentialist philosophers along with Søren Kierkegaard (1813–1855), Nietzsche’s revitalizing philosophy has inspired leading figures in all walks of cultural life, including dancers, poets, novelists, painters, psychologists, philosophers, sociologists and social revolutionaries.

Fonte: Stanford Encyclopedia of Philosophy Continuar lendo