Heidegger – só um Deus pode nos salvar

[…] A filosofia a não estará apta a efetuar uma transformação imediata na presente condição do mundo. Isto é verdadeiro não apenas para a filosofia a, mas para todo pensamento meramente humano e empenho. Só um deus pode nos salvar. A única possibilidade que nos é deixada é a de preparar uma espécie de prontidão, através do pensar e do poetar, para o aparecimento do deus ou para a ausência do deus em tempo de decadência; pois perante a face do deus ausente, nós naufragamos.

Heidegger, entrevista ao Der Spiegel Continuar lendo

Gilles-Gaston Granger: a essência da técnica

“A traveler accounts that, in the forests of Ecuador, indigenous tribes live without
contact with the civilized. One day, a hundred trucks, excavators, bulldozers working for an oil company opening roads, drilling wells, subverting the forest come to their domains”. Here’s how the Indians, stupefied, explain to each other the phenomenon: “new animals, they said, appeared. They domesticated men who obey and serve them as slaves. And white men feed and open them paths through the forest…”.

Gilles-Gaston Granger, “Reason”

Alain Boutot – Heidegger e a técnica

Alguns viram na interpretação heideggeriana da modernidade uma condenação sem apelo equivalente a uma rejeição pura e simples da técnica. Este modo de ver repousa, na realidade, sobre um mal-entendido tenaz que o próprio Heidegger não cessou de denunciar. O discurso heideggeriano não é dirigido contra a técnica e não prega um qualquer retorno à Idade Média ou mesmo à Idade da Pedra, o que seria ridículo, mas tenta fundamentalmente discernir-lhe a essência. Heidegger aborda a técnica como «fenomenólogo», perspectivando-a no quadro da história do ser. Mais precisamente, visa preparar, ao evidenciar o perigo inerente à essência da técnica, o discernimento do que reclama desde sempre ser pensado, ou seja, o discernimento do próprio ser.

Alain Boutot, Introdução à Filosofia de Heidegger, 1993, p. 104-108

Ortega y Gasset – a educação deficiente da Modernidade

“E, com efeito, o tipo médio do atual homem europeu possui uma alma mais sã e mais forte que as do passado século, porém muito mais simples. Daí que às vezes produza a impressão de um homem primitivo surgido inesperadamente em meio a uma velhíssima civilização. Nas escolas que tanto orgulhavam o passado século, não se pode fazer outra coisa senão ensinar às massas as técnicas da vida moderna, mas não foi possível educá-las. Deram-se-lhe instrumentos para viver intensamente, mas não sensibilidade para os grandes deveres históricos; inoculou-se-lhes atropeladamente o orgulho e o poder dos meios modernos, mas não o espírito. Por isto não querem nada com o espírito, e as novas gerações dispõem-se a tomar o comando do mundo como se o mundo fosse um paraíso sem rastros antigos, sem problemas tradicionais e complexos.”

Ortega y Gasset, “Rebelião das Massas” (p.93)